A ESCOLA MODERNA (Francesc Ferrer i Guàrdia)

Edição original:  La Escuela Moderna FORU-AIT Uruguai, 1960

Tradução e diagramação: Ateneu Diego Giménez COB-AIT Piracicaba, 2010

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Prefácio ao Ateneu ATENEU Diego Giménez (2010)

Os produtos imaginativos da inteligência, os conceitos a priori, toda a bagunça de elucubrações fantásticas tidas por verdade e impostas até o presente como critério diretor da condução do homem, vêm sofrendo, há muito tempo, mas em um círculo reduzido, a derrota por parte da razão e o descrédito da consciência.

A hora atual, o sol não tão somente cobre os cumes; estamos em luz quase meridiana que invade até os sopés das montanhas. A ciência, felizmente, já não é patrimônio de um reduzido grupo de privilegiados; suas irradiações benfeitoras penetram com mais ou menos consciência por todas as camadas sociais. Por todas as partes, dissipa os erros tradicionais; com o procedimento seguro da experiência e da observação, capacita os homens para que formem uma doutrina exata, um critério real, acerca dos objetos e das leis que os regulam, e em dois momentos presentes, com autoridade inabalável, incontestável, para o bem da humanidade, para que terminem de uma vez por todas os exclusivismos e os privilégios, se constitui na única diretora da vida do homem, procurando embebê- la em um sentimento universal, humano.

Contando com forças modestas, mas com uma fé racional poderosa e com uma atividade que está muito longe de esmorecer, ainda que lhe oponham circunstâncias adversas de todo tipo, foi constituída a Escola Moderna. Seu propósito é coadjuvar corretamente, sem complacência com os métodos tradicionais, o ensino pedagógico baseado nas ciências naturais. Este método novo, porém unicamente real e positivo, se espalhou por todos os âmbitos do mundo civilizado, e conta com inúmeros operários, superiores de inteligência e abnegados de vontade.

ÍNDICE

I. Explicação preliminar.

II. Senhorita Meunier.

III. Reponsabilidade aceita.

IV. Programa primitivo.

V. Coeducação de ambos os sexos.

VI. Coeducação das classes sociais.

VII. Higiene escolar.

VIII. O professorado.

IX. A renovação da escola.

X. Nem prêmio nem castigo.

XI. Laicismo e biblioteca.

XII. Conferências dominicais .

XIII. Resultados positivos.

XIV. Em legítima defesa.

XV. Ingenuidade infantil.

XVI. Boletim da Escola Moderna.

XVII. Fechamento da Escola Moderna

I. EXPLICAÇÃO PRELIMINAR

Minha participação nas lutas do século passado submeteram minhas convicções à prova. Revolucionário inspirado no ideal de justiça, pensando que a liberdade, a igualdade e a fraternidade eram o corolário lógico e positivo da República, e dominado pelo preconceito admitido de maneira generalizada, não vendo outro caminho para a consecução daquele ideal que a ação política, precursora da transformação do regime governamental, dediquei meus afãs à política republicana.

Minha relação com D. Manuel Ruiz Zorrilla, que poderia ser considerado como um centro de ação revolucionária, me pôs em contato com muitos revolucionários espanhóis e com muitos e notáveis republicanos franceses, e esta relação me causou muita desilusão: em muitos, vi egoísmos hipocritamente dissimulados; em outros que reconheci como mais sinceros, só encontrei ideais insuficientes; em nenhum reconheci o propósito de realizar uma transformação radical que, descendo até a profundez das causas, fosse a garantia de uma perfeita regeneração social.

A experiência adquirida durante meus quinze anos de residência em Paris, na qual presenciei as crises do boulangismo, do dreyfusismo e do nacionalismo, que constituíram um perigo para a república, me convenceram que o problema da educação popular não se encontrava resolvido, e, não estando na França, não poderia esperar que o republicanismo espanhol o resolvesse, já que sempre demonstrou um deplorável desconhecimento da importância capital que o sistema de educação tem para um povo.

Imagine o que seria da geração atual se o Partido Republicano Espanhol, depois do exílio de Ruiz Zorrilla, tivesse se dedicado a fundar escolas racionalistas ao lado de cada comitê, de cada núcleo livre-pensador ou de cada loja maçónica; se em lugar dos presidentes, secretários e membros dos comitês se preocupando com o emprego que ocupariam na futura república, tivessem trabalhado ativamente pela instrução popular; quanto teria se avançado durante trinta anos nas escolas diurnas para crianças e nas noturnas para adultos.

O povo se contentaria neste caso enviando deputados ao Parlamento que aceitassem uma Lei de Associações apresentada pelos monarquistas? O povo se limitaria a promover motins pela subida do preço do pão, sem se rebelar contra as privações impostas ao trabalhador por causa da abundância de supérfluos de que gozam aqueles que enriquecem com o trabalho aleio? O povo raquítico faria motins contra o consumo ao invés de se organizar para a supressão de todo o privilégio tirânico?

Minha situação como professor do idioma espanhol na Associação Fitotécnica e no G. O. da França me pôs em contato com pessoas de todas as classes, tanto em relação ao caráter próprio quanto ao de sua posição social, e, examinadas com o objetivo de ver o que prometiam a respeito de sua influência sobre o grande conjunto, só vi gente disposta tirar o melhor proveito possível da vida no sentido individual: uns estudavam o idioma espanhol para proporcionar um avanço em sua profissão, outros para estudar a literatura espanhola e se aperfeiçoar em sua carreira, outros ainda para proporcionar maior intensidade em seus prazeres ao viajar pelos países em que o idioma é falado.

Ninguém se chocava com o absurdo dominante da incongruência que existe entre o que se crê e o que se sabe, nem ninguém apenas se preocupava de uma forma racional e justa com a solidariedade humana, que deu a todos os que vivem em uma geração a participação correspondente no patrimônio criado pelas gerações anteriores.

Vi o progresso entregue a uma espécie de fatalidade, independente do conhecimento e da bondade dos homens, e sujeito a vai-e-vens e acidentes em que nem a ação da consciência nem da energia humanas têm participação. O indivíduo, formado na família com seus atavismos selvagens, com os erros tradicionais perpetrados pela ignorância das mães, e na escola com algo pior que o erro, que é a mentira sacramental imposta por aqueles que dogmatizam em nome de uma suposta revelação divina, entrava na sociedade deformado e degenerado, e não podia ser exigido dele, por uma reação lógica de causa e efeito, mais que resultados irracionais e perniciosos.

Meu tratamento para com as pessoas de minha relação, inspirado sempre na ideia de proselitismo, era direcionado a julgar a utilidade de cada uma do ponto de vista de meu ideal, e não tardei em me convencer de que não podia contar com os políticos que rodeavam D. Manuel para nada; no meu juízo, que me perdoem as exceções honrosas, eram arrivistas inveterados. Isto deu lugar a uma certa expressão que, circunstâncias graves e tristes para mim, a autoridade judicial quis explorar em meu prejuízo. D. Manuel, homem de alta visão e não suficientemente prevenido contra as misérias humanas, costumava me classificar como anarquista cada vez que me via expor uma solução lógica, e portanto sempre radical, oposta às vontades oportunistas e aos falsos radicalismos que os revolucionários espanhóis que lhe assediavam, e ainda exploram, apresentavam, assim como os republicanos franceses, que seguiam uma política de benefício positivo para a burguesia e que fugiam do que poderia beneficiar o proletariado deserdado, alegando se manter à distância de qualquer utopia.

Resumindo e explicando: durante os primeiros anos da restauração, havia homens conspirando com Ruiz Zorrilla que depois se manifestaram monarquistas e conservadores convictos; e aquele homem digno que mantinha vivo o protesto contra o golpe de Estado de 3 de janeiro de 1874, muito sincero e honesto, confiou naqueles falsos amigos, acontecendo o que com grande frequência acontece entre políticos, que a maioria abandonou a liderança republicana para aceitar um cargo elevado, e só pôde contar com a adesão daqueles que por dignidade não se vendem, mas que por preocupação carecem de lógica para elevar seu pensamento e sua energia para ativar sua ação.

A não ser por Asensio Vega, Cebrián, Mangado, Villacampa e poucos mais, D. Manuel havia sido o brinquedo de ambiciosos e especuladores disfarçados de patriotas durante anos.

Como consequência, limitei minha ação a meus alunos, escolhendo para meus experimentos aqueles que pareceram mais apropriados e melhor dispostos.

Com a percepção clara do fim a que me propunha, e em posse de certo prestígio que me dava a carreira de professor e meu caráter expansivo, cumpridos os meus deveres profissionais, eu falava com meus alunos sobre diversos assuntos: algumas vezes sobre costumes espanhóis, outras sobre política, religião, arte, filosofia, e sempre procurava corrigir os juízos emitidos no que pudessem ter de exagerados ou mal fundados, ou ressaltava o inconveniente que existe em submeter o critério próprio ao dogma de seita, de escola ou de partido, o que por desgraça está tão generalizado, e desse modo obtinha com certa frequência que indivíduos distanciados por seu credo particular, depois de discutir, se aproximassem e concordassem, pulando sobre crenças antes indiscutidas e aceitas por fé, por obediência ou por simples acatamento servil, e por isso meus amigos e alunos se sentiam felizes por terem abandonado um erro vergonhoso e terem aceitado uma verdade cuja posse eleva e dignifica.

A severidade da lógica, aplicada sem censura e com oportunidade, limou asperezas fanáticas, estabeleceu concórdias intelectuais e quem sabe até que ponto determinou vontades em sentido progressivo.

Livres-pensadores opostos à igreja mas que transigiam com as aberrações do Gênesis, com a moral inadequada do Evangelho e até com as cerimônias eclesiásticas; republicanos mais ou menos oportunistas ou radicais que se contentavam com a minguada igualdade democrática que contém o título de cidadania, sem afetar nem minimamente a diferença de classes; filósofos que fingiam ter descoberto a causa primordial entre labirintos metafísicos, fundando a verdade sobre uma vã fraseologia; todos puderam ver o erro alheio e o próprio, todos ou a maior parte se orientou em direção ao senso comum.

Levado pelas alternativas da vida para longe daqueles amigos, alguns me enviaram a expressão de sua amizade ao fundo do calabouço onde eu esperava a liberdade firme em minha inculpabilidade; de todos espero ação progressiva boa e eficaz, satisfeito por ter sido a causa determinante de sua orientação racional.


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