TROTSKY PROTESTA DEMAIS (Emma Goldman)

Este texto cresceu a partir de um artigo para “Vanguard”, o periódico anarquista mensal publicado na cidade de Nova Iorque. Ele apareceu na edição de julho de 1938, mas como o espaço da revista é limitado, somente parte do manuscrito pôde ser usado. Aqui ele é apresentado de uma maneira revista e expandida.

Leon Trotsky irá dizer que a crítica do seu papel na tragédia de Kronstadt é somente para ajudar e incitar seu inimigo mortal, Stalin. Não ocorre a ele que pode-se detestar o selvagem no Kremlin e seu regime cruel e no entanto não exonerar Leon Trotsky do crime contra os marinheiros de Kronstadt.

Na verdade, eu não vejo diferença marcante entre os dois protagonistas do sistema benevolente da ditadura exceto que Leon Trotsky não está mais no poder para aplicar suas bênçãos, e Josef Stalin está. Não, eu não defendo o atual soberano da Rússia. Eu devo apontar, contudo, que Stalin não caiu como um presente dos céus ao desafortunado povo russo. Ele está meramente continuando as tradições bolcheviques, mesmo que de uma maneira mais implacável.

O processo que alienou as massas russas da Revolução começou quase imediatamente após Lenin e seu partido ascenderam ao poder. Discriminação grosseira em rações e moradia, supressão de todo direito político, perseguição e prisões contínuas, cedo se tornaram a ordem do dia. E verdade, as purgas empreendidas naquele momento não incluíam membros do partido, apesar de comunistas também terem ajudado a preencher as prisões e os campos de concentração. Um caso em questão é a primeira Oposição Operária cuja militância de base foi rapidamente eliminada e seus líderes Shlapnikov foi enviado ao Cáucaso para “um descanso” e Alexandra Kollontay colocada s prisão domiciliar. Mas todos os outros oponentes políticos, entre eles mencheviques, socialistas revolucionários, anarquistas, muitos da inteligência liberal e trabalhadores assim como camponeses, receberam pouca consideração nos porões da Tcheka, ou foram exilados para a morte lenta em partes distantes da Rússia e da Sibéria. Em outras palavras, Stalin não originou a teoria ou os métodos que esmagaram a Revolução Russa e forjaram novas correntes para o povo russo.

Eu admito, a ditadura sob o domínio de Stalin se tornou monstruosa. Todavia, isso não diminui a culpa de Leon Trotsky como um dos atores no drama revolucionário do qual Kronstadt foi uma das cenas mais sangrentas.

Eu tenho na minha frente dois números, fevereiro e abril de 1938, de Nova Internacional, a revista oficial de Trotsky. Ela contém artigos por John G. Wright, cem por cento trotskista, e do próprio Grande Magnata, que pretendem ser uma refutação das alegações feitas contra ele em relação a Kronstadt. O Sr. Wright está simplesmente ecoando a voz de seu mestre, e seu material não é de maneira alguma em primeira mão ou proveniente de contato pessoal com os eventos de 1921. Eu prefiro prestar meus respeitos a Leon Trotsky. Ele ao menos tem o mérito duvidoso de ter sido parte da “liquidação” de Kronstadt.

Há, todavia, várias ríspidas declarações errôneas no artigo de Wright que precisam ser criticadas. Eu irei, portanto, proceder a isso de uma vez e lidar com seu mestre depois.

John G. Wright alega que A Rebelião de Kronstadt, por Alexander Berkman, “é meramente uma reafirmação dos supostos fatos e das interpretações dos socialistas revolucionários de direita com algumas alterações insignificantes” (selecionado de “A Verdade sohre a Rússia em Volya, Rússia, Praga, 1921”).

O escritor vai mais a fundo e acusa Alexander Berkman de “descaramento, plágio” e de “apresentar, como é de seu costume, algumas alterações insignificantes, e esconder a verdadeira fonte do que parece ser sua própria avaliação”. A vida e o trahalho de Alexander Berkman o colocaram entre os maiores pensadores e lutadores revolucionários, completamente dedicado ao seu ideal. Aqueles que o conheceram irão testemunhar sua altíssima qualidade em todas as suas ações, assim como sua integridade como um escritor sério. Eles certamente irão achar graça em saher do Sr. Wright que Alexander Berkman era “plagiador” e “descarado” e que “seu costume era fazer algumas alterações insignificantes…”.

O comunista comum, seja da linha de Trotsky ou de Stalin, sahe aproximadamente tanto sohre a literatura anarquista e seus autores quanto, digamos, o católico comum sahe sohre Voltaire ou Thomas Paine. A própria sugestão de que deve-se saher o que o oponente defende antes de xingá-lo seria rejeitada como heresia pela hierarquia comunista. Eu não acho, portanto, que John G. Wright mente deliheradamente sohre Alexander Berkman. Ao invés disso, eu acho que ele é densamente ignorante.

Manter diários foi um háhito vitalício de Alexander Berkman. Mesmo durante o purgatório de catorze anos que ele enfrentou na Penitenciária Ocidental nos Estados Unidos, Alexander Berkman foi capaz de manter seu diário atualizado, o qual conseguiu enviar secretamente para mim. No S.S. “Buford”, que nos levou em nosso longo e perigoso cruzeiro de 28 dias, meu companheiro continuou seu diário e ele manteve este antigo háhito ao longo dos 23 meses de nossa estadia na Rússia.

Memórias de um Anarquista na Prisão, admitido por críticos conservadores como sendo até mesmo comparável com Recordações da Casa dos Mortos, de Fyodor Dostoyevsky, foi preparada a partir de seu diário. A Rebelião de Kronstadt e O Mito Bolchevique são tamhém descendentes de seu arquivo cotidiano na Rússia. E estúpida, portanto, a acusação de que a hrochura de Berkman sohre Kronstadt “é apenas uma reafirmação de supostos fatos…” do trahalho do S.R. que apareceu em Praga.

No mesmo nível de exatidão deste ataque contra Alexander Berkman por Wright está sua acusação de que meu velho amigo havia negado a existência do General Kozlovsky em Kronstadt.

A Rebelião de Kronstadt, na página 15, afirma: “Havia de fato um ex-general Kozlovsky em Kronstadt. Foi Trotsky quem o estabeleceu ali como um especialista em artilharia. Ele não desempenhou qualquer papel nos eventos de Kronstadt”. Isso não veio de ninguém além de Zinoviev, que ainda estava então no zénite de sua glória. Na Sessão Extraordinária do Soviete de Petrogrado, em 4 de março de 1921, convocado para decidir o destino de Kronstadt, Zinoviev disse: “E claro que Kozlovsky está velho e não pode fazer nada, mas os Oficiais Brancos estão atrás dele e estão enganando os marinheiros”. Alexander Berkman, entretanto, enfatizou o fato de que os marinheiros não queriam nada do ex-general de estimação de Trotsky, nem aceitariam a oferta de provisões e outro auxílio de Victor Tchernov, líder dos S.R.s direitistas em Paris (Socialistas Revolucionários).

Os trotskistas sem dúvida consideram sentimentalismo burguês permitir aos malignos marinheiros o direito de falarem por si mesmos. Eu insisto que esta abordagem aos oponentes é um jesuitismo condenável e fez mais para desintegrar todo o movimento operário que qualquer outra das táticas “sagradas” do bolchevismo.

Como o leitor pode estar na posição de decidir entre a acusação criminosa contra Kronstadt e o que os marinheiros tinham a dizer por si mesmos, eu reproduzo aqui a mensagem de rádio aos trabalhadores do mundo de 6 de março de 1921:

Nossa causa é justa: defendemos o poder dos Sovietes, e não dos partidos. Nós defendemos representantes das classes laboriosas livremente eleitos. Os Sovietes substitutos, manipulados pelo Partido Comunista, sempre foram surdos às nossas necessidades e às nossas exigências; a única resposta que nós já recebemos foram tiros… Camaradas! Não apenas os enganam; eles deliberadamente pervertem a verdade e recorrem à difamação mais desprezível… Em Kronstadt, todo o poder está exclusivamente nas mãos dos marinheiros, dos soldados e dos trabalhadores revolucionários – não nas de contrarrevolucionários liderados por algum Kozlovsky, como a mentirosa rádio de Moscou tentar fazer vocês acreditarem… Não tardeis, camaradas! Unam-se a nós, entrem em contato conosco; exijam admissão de seus delegados em Kronstadt. Somente eles irão dizer-lhes toda a verdade e irão expor a calúnia cruel sobre o pão finlandês e as ofertas da Entente.

Viva o proletariado e o campesinato revolucionários!

Viva o poder dos Sovietes livremente eleitos!

Os marinheiros eram “liderados” por Kozlovsky, no entanto pediam que os trabalhadores do mundo enviassem delegados para que eles pudessem ver se havia alguma verdade na calúnia sombria espalhada contra eles pela imprensa soviética!

Leon Trotsky está surpreso e indignado de que se atrevam a levantar tal clamor sobre Kronstadt. Afinal, aconteceu há tanto tempo atrás, de fato dezessete anos se passaram, e foi um mero “episódio na história da relação entre a cidade proletária e a vila pequeno burguesa”. Por que alguém iria querer fazer tanto alvoroço tanto tempo depois a menos que seja para “comprometer a única corrente revolucionária genuína que nunca repudiou sua bandeira, nem se comprometeu com seus inimigos, e que sozinha representa o futuro”. O egotismo de Leon Trotsky, conhecido em todos os lugares por seus amigos e seus inimigos, nunca foi seu ponto mais fraco. Desde que o seu inimigo mortal o dotou de nada menos que uma varinha mágica, sua presunção alcançou proporções alarmantes.

Leon Trotsky está ultrajado pelas pessoas terem revivido o “episódio” de Kronstadt e terem feito perguntas sobre o seu papel. Não ocorre a ele que aqueles que vieram em sua defesa contra seu detrator têm o direito de perguntar que métodos ele empregou quando estava no poder, e como ele lidou com aqueles que não endossavam o seu ditado como uma verdade evangélica. É claro que era ridículo esperar que ele batesse em seu peito e dissesse “Eu também, fui desumano e cometi erros. Eu também pequei e matei meus irmãos ou mandei que os matassem”. Somente profetas e videntes sublimes se elevaram a níveis de coragem tão altos. Leon Trotsky certamente não é um deles. Pelo contrário, ele continua a alegar onipotência em todos os seus atos e julgamentos e a excomungar qualquer um que tolamente sugerir que o grande deus Trotsky também possui pés de barro.

Ele zomba da evidência documental deixada pelos marinheiros de Kronstadt e da evidência daqueles que estiveram ao alcance da visão e da audição do medonho cerco de Kronstadt. Ele as chama de “falsos rótulos”. Todavia, isso não o impede de assegurar aos seus leitores de que sua explicação da rebelião de Kronstadt poderia ser “substanciada e ilustrada por muitos fatos e documentos”. Pessoas inteligentes bem podem perguntar por que Leon Trotsky não teve a decência de apresentar estes “falsos rótulos” para que as pessoas estivessem em posição de formar uma opinião correta delas.

Agora, é fato que mesmo as cortes capitalistas garantem ao réu o direito a apresentar evidência a seu próprio favor. Mas não Leon Trotsky, o porta-voz da única verdade, aquele que “nunca repudiou sua bandeira e nunca se comprometeu com seus inimigos”.

Pode-se entender tal falta de decência comum em John G. Wright. Ele está, como eu já afirmei, meramente citando a escritura sagrada bolchevique. Mas para uma figura mundial como Leon Trotsky silenciar a evidência dos marinheiros parece para mim indicativo de um caráter bastante pequeno. O velho ditado do leopardo que muda suas pintas mas não sua natureza forçosamente se aplica a Leon Trotsky. O calvário que ele aguentou durante seus anos de exílio, a perda trágica daqueles próximos e queridos a ele, e, ainda mais comoventemente, a traição por seus ex-companheiros de armas, não ensinaram nada a ele. Nem um lampejo de bondade ou suavidade humana afetou o espírito rancoroso de Trotsky.

Que pena que o silêncio dos mortos às vezes fala mais alto que a voz viva. Em questão de verdade, as vozes estranguladas em Kronstadt cresceram em volume nestes dezessete anos. E por esta razão, imagino, que Leon Trotsky ressente este som?

Leon Trotsky cita Marx dizendo “que é impossível julgar tanto partidos quanto pessoas pelo que elas dizem sobre elas mesmas”. Quão patético que ele não percebe o quanto isso se aplica a ele! Nenhum homem entre os hábeis escritores bolcheviques conseguiu se manter tanto no primeiro plano ou gabou-se tão incessantemente sobre sua parte na Revolução Russa e depois quanto Leon Trotsky. Por este critério de seu grande professor, teria que serem declarados inúteis todos os escritos de Leon Trotsky, o que seria tolice, é claro.

Ao descreditar os motivos que condicionaram a revolta de Kronstadt, Leon Trotsky se lembra do seguinte: “A partir de diferentes frentes eu enviei dezenas de telegramas sobre a mobilização dos novos destacamentos ‘confiáveis’ dentre os trabalhadores de Petersburgo e os marinheiros da frota do Báltico, mas já em 1918, e, em qualquer caso, não depois de 1919, as frentes começaram a reclamar que o novo contingente de Kronstadt era insatisfatório, exigente, indisciplinado, inconfiável em batalha e fazia mais mal que bem”. Mais adiante, na mesma página, Trotsky alega que “quando as condições da fome se tornaram bastante críticas, Petrogrado, o Gabinete Político, mais de uma vez discutiu a possibilidade de assegurar um ‘empréstimo interno’ de Kronstadt, onde uma quantidade de antigas provisões ainda permanecia, mas os delegados dos trabalhadores de Petrogrado responderam ‘Vocês nunca vão conseguir nada deles pela bondade; eles especulam em tecido, carvão e pão. Atualmente, em Kronstadt há todo tipo de ralé”. Que coisa mais bolchevique, não somente assassinar seus oponentes, mas também manchar seus caráteres. De Marx e Engels, Lenin, Trotsky a Stalin, estes métodos sempre foram os mesmos.

Agora, eu não me atrevo a discutir o que os marinheiros de Kronstadt eram em 1918 ou 1919. Eu não cheguei á Rússia até janeiro de 1920. Daquele momento em diante, até que Kronstadt fosse “liquidada”, os marinheiros da Frota do Báltico eram vistos como o exemplo glorioso de valor e de coragem resoluta. Daí até o final me era dito não apenas por anarquistas, mencheviques e socialistas revolucionários, mas por muitos comunistas, que os marinheiros eram a própria espinha dorsal da Revolução. Em 1- de maio de 1920, durante a celebração e as outras festividades organizadas para o primeira Missão Operária Britânica, os marinheiros de Kronstadt apresentaram um amplo contingente definido, e foram apontados entre os grandes heróis que salvaram a Revolução de Kerensky, e Petrogrado de Yudenich. Durante o aniversário de Outubro, os marinheiros estavam de novo nas fileiras da frente, e sua re-encenação da tomada do Palácio de Inverno foi aclamada descontroladamente por uma multidão abarrotada.

E possível que os membros líderes do partido, salvo Leon Trotsky, estavam desavisados sobre a corrupção e a desmoralização de Kronstadt, alegada por ele? Eu acho que não. Além disso, eu duvido que o próprio Trotsky manteve essa visão dos marinheiros de Kronstadt até março de 1921. Sua história deve, portanto, ser um pensamento posterior, ou é uma racionalização para justificar a “liquidação” sem sentido de Kronstadt?

Mesmo que a equipe tivesse passado por uma mudança, é ainda um fato de que os marinheiros de Kronstadt em 1921 estavam, não obstante, longe do quadro que Leon Trotsky e seu eco pintaram. Na verdade, os marinheiros encontraram seu destino somente por causa de sua profunda amizade e solidariedade com os trabalhadores de Petrogrado, cuja capacidade de resistência ao frio e ã fome havia atingindo o ponto máximo em uma série de greves em fevereiro de 1921. Por que Leon Trotsky e seus seguidores falharam em mencionar isto? Leon Trotsky sabe perfeitamente bem, se Wright não sabe, que a primeira cena do drama de Kronstadt foi encenada em Petrogrado em 24 de fevereiro, e ela foi encenada não pelos marinheiros, mas pelos grevistas. Pois foi nesta data que os grevistas haviam dado vazão ã sua raiva acumulada sobre a indiferença insensível dos homens que haviam tagarelado sobre a ditadura do proletariado que há tempos atrás se deteriorou na ditadura sem misericórdia do Partido Comunista.

A anotação de Alexander Berkman em seu diário deste dia histórico diz:

Os operários de Truhotchny entraram em greve. Na distribuição das roupas de inverno, eles reclamam, os comunistas receberam vantagem indevida sobre os independentes. O governo se recusa a considerar as queixas até que os homens retornem ao trabalho.

Multidões de grevistas se reuniram na rua próxima às fábricas, e soldados foram enviados para dispersá-los. Havia kursanti, juventudes comunistas da academia militar. Não houve violência.

Agora aos grevistas se juntaram homens dos estaleiros do Almirantado e das docas de Galernaya. Há muito ressentimento contra a atitude arrogante do governo. Tentou-se uma manifestação de rua, mas tropas montadas a suprimiram.

Foi depois do relato de seu Comitê sobre o estado real das coisas entre os trabalhadores de Petrogrado que os marinheiros de Kronstadt fizeram em 1921 o que eles haviam feito em 1917. Eles imediatamente ficaram ao lado dos operários. O papel dos trabalhadores em 1917 foi louvado como o orgulho e a glória vermelhos da Revolução. Seu papel idêntico em 1921 foi denunciado a todo o mundo como traição contrarrevolucionária. Naturalmente, em 1917, Kronstadt ajudou os bolcheviques na sela. Em 1921, eles exigiram um ajuste de contas pelas falsas esperanças levantadas nas massas, e pela grande promessa quebrada quase que imediatamente assim que os bolcheviques se sentiram entrincheirados em seu poder. Um crime hediondo, de fato. A fase importante deste crime, contudo, é que Kronstadt não entrou em “motim” a partir do nada. A causa para isso tinha profundas raízes no sofrimento dos operários russos; o proletariado urbano, assim como o campesinato.

Para ter certeza, o ex-comissário nos assegura de que “os camponeses se conformaram com a requisição como um mal necessário”, e que “os camponeses aprovaram os bolcheviques, mas se tornaram crescentemente hostis aos ‘comunistas’”. Mas estas controvérsias são mera ficção, como pode ser demonstrado por numerosas provas – não menos importante, a liquidação do Soviete camponês, liderado por Maria Spiridonova, e o fogo e o ferro usados para forçar os camponeses a entregarem toda a sua produção, incluindo os grãos para sua semeadura de inverno.

Em questão de verdade histórica, os camponeses odiavam o regime quase desde o início, certamente a partir do momento que o lema de Lenin, “Roubem os ladrões”, se transformou em “Roubem os camponeses para a glória da Ditadura Comunista”. E por isso que eles estavam em constante agitação contra a Ditadura Bolchevique. Um caso em questão foi a sublevação dos camponeses carelianos afogados em sangue pelo general czarista Slastchev-Krimsky. Se os camponeses estavam tão enamorados com o regime soviético, como Leon Trotsky gostaria que acreditássemos, por que foi tão necessário apressar este homem terrível para a Carélia?

Ele havia lutado contra a Revolução desde o começo e conduziu algumas das forças de Wrangel à Crimea. Ele era culpado de harharidades cruéis a prisioneiros de guerra e era infame como fazedor de pogroms. Agora, Slastchev-Krimsky retratou-se e retornou à “sua pátria”. Este arquicontrarrevolucionário e antissemita, junto com vários generais czaristas e Guardas Brancos, foi recehido pelos bolcheviques com honras militares. Sem dúvida foi uma retribuição justa que o antissemita teve que saudar o judeu, Trotsky, seu superior militar. Mas à Revolução e ao povo russo, o retorno triunfante do imperialista foi um ultraje.

Como recompensa por seu recém-desenvolvido amor pela Pátria Socialista, Slastchev-Kimsky foi autorizado a subjugar os camponeses carelianos que exigiam autodeterminação e melhores condições.

Leon Trotsky nos diz que os marinheiros de Kronstadt em 1919 não teriam desistido das provisões por “bondade” – não que a bondade foi tentada em qualquer momento. De fato, essa palavra não existe no dicionário bolchevique. No entanto aqui estão estes marinheiros desmoralizados, a ralé especuladora etc., se aliando ao proletariado urbano em 1921, e sua primeira exigência era pela igualdade das rações. Mas que vilões esses marinheiros de Kronstadt eram!

Muito está sendo dito por ambos os escritores contra Kronstadt sobre o fato de que os marinheiros que, como insistimos, não premeditaram a rebelião, mas se reuniram no dia 1° de março para discutir maneiras e meios de ajudar seus camaradas de Petrogrado, rapidamente se formaram em um Comitê Revolucionário Provisório. A resposta a isso é na verdade dada pelo próprio John G. Wright. Ele escreve: “Não se exclui de maneira alguma que as autoridades locais em Kronstadt erraram em como lidaram com a situação… Não é segredo que nem Kalinin nem o Comissário Kuzmin eram muito estimados por Lenin e seus colegas… Na medida em que as autoridades locais estavam cegas à extensão total do perigo ou falharam em tomar medidas apropriadas e efetivas para lidar com a crise, suas trapalhadas desempenharam um papel nos eventos subsequentes…”.

A afirmação de que Lenin não estimava altamente Kalinin ou Kuzmin é infelizmente um velho truque do bolchevismo para colocar toda a culpa em algum trapalhão para que os cabeças permaneçam puros.

De fato, as autoridades locais em Kronstadt realmente cometeram “uma trapalhada”. Kuzmin atacou perversamente os marinheiros e os ameaçou com resultados terríveis. Os marinheiros evidentemente sabiam o que esperar de tais ameaças. Eles não podiam fazer nada além de supor que se fosse permitido que Kuzmin e Vassiliev permanecessem soltos, seu primeiro passo seria remover as armas e as provisões de Kronstadt.

Esta foi a razão pela qual os marinheiros formaram seu Comitê Revolucionário Provisório. Um fator adicional foram as notícias de que a um comitê de 30 marinheiros enviados a Petrogrado para conferenciar com os operários foi negado o direito de voltar para Kronstadt, que eles foram presos e alocados na Tcheka.

Ambos os escritores fizeram uma tempestade em copo dagua dos rumores anunciados na reunião de 1° de março de que um caminhão lotado de soldados fortemente armados estavam a caminho de Kronstadt. Wright evidentemente nunca viveu sob uma ditadura hermética. Eu vivi. Quando todo canal de contato humano é fechado, quando todo pensamento é refletido e a expressão é reprimida, então rumores crescem como cogumelos do solo e crescem a dimensões assustadoras. Além disso, caminhões de soldados e tchekistas armados até os dentes pelas ruas durante o dia, atirando suas redes ã noite e arrastando sua pesca humana ã Tcheka, eram uma visão frequente em Petrogrado e Moscou durante o tempo em que eu estive lá. Na tensão da reunião depois do discurso ameaçador de Kuzmin, era perfeitamente natural que fosse dado crédito a rumores.

As notícias na imprensa francesa sobre a revolta de Kronstadt duas semanas antes de ter acontecido tinha sido enfatizada na campanha contra os marinheiros como prova positiva de que eles tinham sido ferramentas da gangue imperialista e de que a rebelião na verdade tinha eclodido em Paris. Era óbvio demais que esta lorota foi usada apenas para descreditar os rebeldes de Kronstadt aos olhos dos trabalhadores.

Na realidade, esta notícia avançada era como qualquer outra notícia de Paris, Riga ou Helsingfors, e que raramente coincidia, se coincidia, com qualquer coisa que tinha sido reivindicada pelos agentes contrarrevolucionários no estrangeiro. Por outro lado, muitos eventos aconteciam na Rússia soviética que teriam alegrado o coração da Entente e que eles nunca chegaram a conhecer – eventos bem mais nocivos ã Revolução Russa causados pela própria ditadura do Partido Comunista. Por exemplo, a Tcheka, que minou várias conquistas de Outubro e que já em 1921 havia se tornado um tumor maligno no corpo da Revolução, e muitos outros eventos similares que me levariam longe demais para tratar aqui.

Não, a notícia avançada na imprensa parisiense não teve qualquer importância na rebelião de Kronstadt. Na verdade, ninguém em Petrogrado em 1921 acreditou nesta conexão, nem mesmo um bom número de comunistas. Como eu já afirmei, John G. Wright é meramente um apto pupilo de Leon Trotsky e, portanto, é bem inocente do que a maioria das pessoas dentro e fora do partido pensavam sobre esta chamada “ligação”.

Historiadores futuros sem dúvida irão avaliar o “motim” de Kronstadt em seu real valor. Se e quando eles fizerem isso, eles sem dúvida chegarão ã conclusão de que a revolta não poderia ter vindo mais oportunamente se ela tivesse sido deliberadamente planejada.

O fator mais dominante que decidiu o destino de Kronstadt foi o NEP (a Nova Política Econômica). Lenin, ciente da oposição bastante considerável do partido que este moderno esquema “revolucionário” encontraria, precisava de alguma ameaça iminente para assegurar a aceitação suave e breve do NEP. Kronstadt apareceu bastante convenientemente. Toda a máquina de propaganda esmagadora foi imediatamente colocada em ação para provar que os marinheiros estavam coligados com todos os poderes imperialistas e todos os elementos contrarrevolucionários para destruir o Estado Comunista. Isso funcionou como mágica. O NEP passou sem um senão.

Só o tempo irá provar o custo assustador que esta manobra acarretou. Os trezentos delegados, a jovem flor comunista, correu do Congresso do Partido para esmagar Kronstadt, eram um mero punhado dos milhares injustificadamente sacrificados. Eles ficaram agitados, acreditando na campanha de vilificação. Aqueles que permaneceram vivos tiveram um rude despertar.

Eu gravei uma reunião com um comunista ferido em um hospital em Minha Desilusão. Ela não perdeu nada de sua comotividade com os anos desde então:

Muitos daqueles feridos no ataque a Kronstadt foram trazidos ao mesmo hospital, a maioria kursanti. Eu tive a oportunidade de falar com um deles. Seu sofrimento físico, ele disse, não era nada comparado com sua agonia mental. Ele percebeu tarde demais que foi enganado pelo grito de “contrarrevolução”. Nenhum general czarista, nenhum Guarda Branco em Kronstadt havia liderado os marinheiros – ele encontrou somente seus camaradas, marinheiros, soldados e operários, que tinham lutado heroicamente pela Revolução.

Ninguém em sã consciência irá ver qualquer similaridade entre o NEP e a exigência dos marinheiros de Kronstadt pelo direito de livre troca de produtos. O NEP veio para reintroduzir os graves males que a Revolução Russa tinha tentado erradicar. A livre troca de produtos entre os operários e os camponeses, entre a cidade e o campo, incorporava a própria razão de ser da Revolução. Naturalmente, “os anarquistas eram contra o NEP”. Mas a troca livre, como Zinoviev me disse em 1920, “está fora do nosso plano de centralização”. O pohre Zinoviev não poderia imaginar que monstro terrível a centralização do poder se tornaria.

Foi a ideia fixa da centralização da ditadura que cedo começou a dividir a cidade e a vila, os operários e os camponeses, não, como Leon Trotsky afirmará, porque “um é proletário… e o outro, pequeno hurguês”, mas porque a ditadura havia paralisado a iniciativa tanto do proletariado da cidade quanto do campesinato.

Leon Trotsky faz parecer com que os operários de Petrogrado rapidamente sentiram “a natureza pequeno hurguesa da revolta de Kronstadt e portanto se recusaram a ter qualquer coisa a ver com ela”. Ele omite a razão mais importante para a aparente indiferença dos operários de Petrogrado. E importante, então, apontar que a campanha de difamação, mentira e calúnia contra os marinheiros começou em 2 de março de 1921. A imprensa soviética regularmente destilou veneno contra os marinheiros. As acusações mais desprezíveis foram proferidas contra eles, e isto foi mantido até que Kronstadt foi liquidada em 17 de março. Além disso, Petrogrado foi colocada soh lei marcial. Várias fáhricas foram fechadas e os operários dessa forma rouhados começaram a consultarem uns aos outros. No diário de Alexander Berkman, eu encontro o seguinte:

Muitas prisões estão sendo efetuadas. Grupos de grevistas sob a guarda de tchekistas a caminho da prisão são uma visão comum. Há grande tensão nervosa na cidade. Precauções elaboradas foram tomadas para proteger a instituição governamental. Metralhadoras estão alocadas em Astoria, na residência de Zinoviev e de outros bolcheviques proeminentes. Proclamações oficiais comandando o retorno imediato dos grevistas às fábricas… e avisando a população contra congregações nas ruas. O Comitê de Defesa iniciou uma ‘limpeza da cidade’.

Muitos operários suspeitos de simpatizarem com Kronstadt foram colocados sob prisão. Todos os marinheiros de Petrogrado e parte da guarnição tidos como ‘inconfiáveis’ foram ordenados a pontos distantes, enquanto as famílias dos marinheiros de Kronstadt que vivem em Petrogrado foram mantidas como reféns. O Comitê de Defesa notificou Kronstadt de que ‘os prisioneiros são mantidos como precaução’ pela segurança do Comissário da Frota do Báltico, N. N. Kuzmin, pelo Presidente do Soviete de Kronstadt, T. Vassiliev, e outros comunistas. Se o menor dano for sofrido por nossos camaradas, os reféns pagarão com suas vidas.

Sob estas regras rígidas, era fisicamente impossível para os operários de Petrogrado se aliarem com Kronstadt, especialmente quando nenhuma palavra dos manifestos publicados pelos marinheiros em seu jornal era permitida penetrar para os trabalhadores de Petrogrado. Em outras palavras, Leon Trotsky deliberadamente falsifica os fatos. Os operários certamente teriam se aliado aos marinheiros porque eles sabiam que eles não eram amotinados ou contrarrevolucionários, e sim que tinham se solidarizado com os operários como seus camaradas haviam feito em 1905, e em março e outubro de 1917. É portanto uma difamação grosseiramente criminosa e consciente sobre a memória dos marinheiros de Kronstadt.

No Nova Internacional, na página 106, segunda coluna, Trotsky assegura a seus leitores que ninguém, “podemos dizer de passagem, se preocupava naqueles dias com os anarquistas”. Isso infelizmente não corresponde com a perseguição incessante de anarquistas que começou em 1918, quando Leon Trotsky liquidou a sede anarquista em Moscou com metralhadoras. Naquele momento, o processo de eliminação dos anarquistas começou. Mesmo agora, tantos anos depois, os campos de concentração do governo soviético estão cheios dos anarquistas que permaneceram vivos. Na verdade, antes da revolta de Kronstadt, de fato em outubro de 1920, quando Leon Trotsky mais uma vez havia mudado de ideia sobre Makhno porque ele precisava de sua ajuda e de seu exército para liquidar Wrangel, e quando ele consentiu com a Conferência Anarquista em Kharkhov, várias centenas de anarquistas fora atraídos para uma rede e despachados à prisão de Bourtika, onde foram mantidos sem qualquer acusação até abril de 1921, quando eles, junto com outros políticos esquerdistas, foram forçadamente removidos na calada da noite e foram secretamente enviados para várias prisões e campos de concentração na Rússia e na Sibéria. Mas essa é uma página da história soviética por si só. O que interessa nesta questão é que deve se ter pensado muito nos anarquistas, ou não haveria razão para prendê-los e enviá-los à velha maneira czarista a partes distantes da Rússia e da Sibéria.

Leon Trotsky ridiculariza as exigências dos marinheiros por Sovietes Livres. Foi de fato ingênuo da parte deles pensar que Sovietes Livres podem viver lado a lado com uma ditadura. Na verdade, os Sovietes Livres deixaram de existir em um estágio prematuro no jogo comunista, como os sindicatos e as cooperativas. Todos eles ficaram presos na roda da biga da máquina estatal bolchevique. Eu me lembro bem de Lenin me dizendo com grande satisfação, “O seu grande velho amigo, Errico Malatesta, é a favor de nossos sovietes”. Eu me apressei em dizer, “Você quer dizer sovietes livres. Camarada Lenin. Eu também sou a favor deles”. Lenin desviou nossa conversa para outra coisa. Mas eu logo descobri por que Sovietes Livres deixaram de existir na Rússia.

John G. Wright irá dizer que não houve problema em Retrogrado até 22 de fevereiro. Isso está no mesmo nível que sua outra rediscussão do material “histórico” do Partido. A desordem e a insatisfação dos operários já estava bastante marcada quando nós chegamos. Em cada indústria que eu visitei, eu encontrei insatisfação e ressentimento extremos porque a ditadura do proletariado se transformou em uma devastadora ditadura do Partido Comunista, com suas diferentes rações e discriminações. Se o descontentamento dos operários não explodiu antes de 1921 foi somente porque eles ainda se agarravam tenazmente à esperança de que quando as frentes fossem liquidadas a promessa da Revolução fosse cumprida. Foi Kronstadt que espetou a última bolha.

Os marinheiros tinham ousado ficar ao lado dos operários descontentes. Eles tinham ousado exigir que a promessa da Revolução – todo Poder nos Sovietes – fosse preenchida. A ditadura política tinha assassinado a ditadura do proletariado. Essa e apenas essa era sua ofensa imperdoável ao espírito santo do bolchevismo.

Em seu artigo, Wright tem uma nota de rodapé para a página 49, segunda coluna, onde ele afirma que Victor Serge em um comentário recente sobre Kronstadt “admite que os bolcheviques, uma vez confrontados com o motim, não tinham outro recurso além de esmagá-lo”. Victor Serge está agora fora das costas hospitaleiras da “pátria” dos trabalhadores. Eu portanto não considero uma violação de confiança quando eu digo que se Victor Serge fez esta afirmação acusada contra ele por John G. Wright, ele meramente não está dizendo a verdade. Victor Serge era da Seção Comunista Francesa e estava tão angustiado e horrorizado com a carnificina prestes a acontecer por decisão de Leon Trotsky de “abater os marinheiros como perdizes” quando Alexander Berkman, eu e muitos outros revolucionários. Ele costumava gastar cada hora livre em nosso quarto correndo para cima e para baixo, arrancando seu cabelo, cerrando seus punhos em indignação e repetindo que “algo deve ser feito, algo deve ser feito, para parar o terrível massacre”. Quando lhe perguntaram por que ele, um membro do partido, não levantou sua voz em protesto na sessão do partido, sua resposta foi que isso não ajudaria os marinheiros e o marcaria para a Tcheka e mesmo para um desaparecimento silencioso. A única desculpa para Victor Serge na época era uma jovem esposa e um bebê pequeno. Mas para ele afirmar agora, após dezessete anos, que “os bolcheviques, uma vez confrontados com o motim, não tinham outro recurso além de esmagá-lo”, é, para dizer o mínimo, imperdoável. Victor Serge sabe muito bem quanto eu que não houve motim em Kronstadt, que os marinheiros na verdade não usaram suas armas de qualquer forma até que o bombardeamento de Kronstadt começou. Eu portanto convoco Victor Serge a assumir a verdade. Se ele foi capaz de continuar na Rússia sob o regime camarada de Lenin, Trotsky e de todos os outros desafortunados que foram recentemente assassinados, consciente de todos os horrores que estão acontecendo, é seu problema, mas eu não posso ficar calada perante a acusação contra ele dizendo que os bolcheviques tinham justificativa para esmagar os marinheiros.

Leon Trotsky é sarcástico quanto ã acusação de que ele matou 1.500 marinheiros. Não, ele não fez o trabalho sangrento ele mesmo. Ele confiou em Tuchachevsky, seu tenente, para matar os marinheiros “como perdizes”, como ele havia ameaçado. Tuchachevsky atendeu ã ordem até o último grau. Os números chocaram-se com legiões, e aqueles que permaneceram após o ataque incessante da artilharia bolchevique foram colocados sob o cuidado de Dibenko, famoso por sua humanidade e sua justiça. Tuchachevsky e Dibenko, os heróis e salvadores da ditadura! A história parece ter sua própria maneira de fazer justiça.

Leon trotsky tenta um trunfo quando pergunta “Onde e quando seus grandes princípios foram confirmados, na prática ao menos parcialmente, pelo menos em tendência?”. Esta carta, como todas as outras que ele jogou em sua vida, não vai ganhar o jogo para ele. Na verdade, princípios anarquistas na prática e em tendência foram confirmadas na Espanha. Eu concordo, apenas parcialmente. Como poderia ser de outra maneira com todas as forças conspirando contra a Revolução Espanhola? O trabalho construtivo empreendido pela Confederação Nacional do Trabalho (a CNT) e a Federação Anarquista Ibérica (a FAI) é algo nunca pensado pelo regime bolchevique em todos os anos de seu poder, e no entanto a coletivização das indústrias e da terra destacou-se como a maior conquista de qualquer período revolucionário. Ademais, se Franco vencer e os anarquistas espanhóis forem exterminados, o trabalho que eles começaram irá continuar a viver. Princípios e tendências anarquistas estão tão profundamente enraizados no solo espanhol que eles não podem ser erradicados.

Leon Trotsky, John G. Wright e os anarquistas espanhóis

Durante os quatro anos de guerra civil na Rússia, quase todos os anarquistas ficaram ao lado dos bolcheviques, apesar deles ficarem cada dia mais conscientes do colapso eminente da Revolução. Eles se sentiram no dever de manterem silêncio e evitarem tudo que traria ajuda e conforto aos inimigos da Revolução.

Certamente, a Revolução Russa lutou contra muitas frentes e muitos inimigos, mas em nenhum momento as chances estavam tão assustadoras quanto aquelas confrontando o povo espanhol, os anarquistas e a Revolução. A ameaça de Franco, ajudada pelo poder do exército e pelo equipamento militar alemães e italianos, a benção de Stalin transferida ã Espanha, a conspiração dos poderes imperialistas, a traição pelas chamadas democracias e não menos importante, a apatia do proletariado internacional, de longe superam os perigos que cercaram a Revolução Russa. O que Trotsky faz frente a uma tragédia tão terrível? Ele se junta ã multidão enraivecida e crava sua própria adaga envenenada na vitalidade dos anarquistas espanhóis na hora mais crucial. Sem dúvida, os anarquistas espanhóis cometeram um grave erro. Eles não convidaram Leon Trotsky para tomar conta da Revolução Espanhola e para mostrar a eles quão bem sucedido ele foi na Rússia para que possa ser repetido tudo de novo em solo espanhol. Esta parece ser sua decepção.


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