Edição Original: Syndicalism: It’s Theory and Practice Mother Earth, vol. VIII, n. 12, p. 417-422 Fevereiro de 1913
Tradução e Diagramação: Ateneu Diego Giménez COB-AIT 2010
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Prefácio ao ATENEU Diego Giménez (2010)
A diferença fundamental entre o sindicalismo e os velhos métodos operários é a seguinte: enquanto as antigas uniões operárias, sem opção, se movem dentro do sistema salarial e do capitalismo, reconhecendo o último como inevitável, o sindicalismo os repudia e condena os acordos industriais atuais como injustos e criminosos, e não transmite nenhuma esperança para o operário quanto aos resultados duradouros deste sistema.
E claro que o sindicalismo, como as antigas uniões operárias, luta por ganhos imediatos, mas ele não é estúpido o suficiente para fingir que o trabalho pode esperar condições humanas a partir de arranjos econômicos desumanos na sociedade. Logo, ele meramente retira do inimigo o que ele pode forçá-lo a entregar; no todo, entretanto, o sindicalismo objetiva e concentra suas energias na derrubada completa do sistema salarial. De fato, o sindicalismo vai além: ele objetiva libertar o trabalho de cada instituição que não tenha por meta o livre desenvolvimento da produção para o benefício de toda a humanidade. Em suma, o propósito definitivo do sindicalismo é reconstruir a sociedade de seu presente estado centralizado, autoritário e brutal para um baseado no agrupamento livre e federativo dos trabalhadores nas linhas da liberdade econômica e social. Com este objetivo em vista, o sindicalismo trabalha em duas direções: primeiro, minando as instituições existentes; segundo, desenvolvendo e educando os trabalhadores e cultivando seu espírito de solidariedade para prepará- los para uma vida cheia e completa quando o capitalismo tiver sido abolido.
O sindicalismo é, em essência, a expressão econômica do anarquismo. Esta circunstância explica a presença de tantos anarquistas no movimento sindicalista. Como o anarquismo, o sindicalismo prepara os trabalhadores ao longo de linhas econômicas diretas, bem como fatores conscientes nas grandes lutas de hoje, bem como fatores conscientes na tarefa de reconstruir a sociedade em linhas industriais autônomas, bem como contra o espírito paralisante da centralização, inerente em todos os partidos políticos.
SINDICALISMO: SUA TEORIA E PRATICA
Emma Goldman
Em vista do fato de que as ideias incorporadas no sindicalismo foram praticadas pelos trabalhadores durante a última metade do século, mesmo sem a experiência da consciência social; que neste país cinco homens tiveram que pagar com suas vidas porque eles defenderam os métodos sindicalistas como sendo os mais efetivos na luta do trabalho contra o capital; e que, ainda, o sindicalismo tem sido praticado conscientemente pelos trabalhadores da França, da Itália e da Espanha desde 1895, é bastante divertido testemunhar algumas pessoas nos Estados Unidos e na Inglaterra agora correndo para o sindicalismo como se ele fosse uma proposta completamente nova e sobre a qual nunca ouviram falar. E assombroso quão ingênuos os americanos são, quão crus e imaturos em questões de importância internacional. Mesmo se vangloriando de sua atitude prática, o americano comum é sempre o último a saber dos meios e das táticas modernas empregadas nas grandes lutas do seu dia. Ele sempre se encontra atrasado em ideias e métodos que os trabalhadores europeus há anos vêm aplicando com grande sucesso.
Pode-se argumentar, é claro, que isto é meramente um sinal de juventude da parte dos americanos. E é de fato lindo possuir uma mente jovem, fresca para receber e perceber. Mas, infelizmente, a mente americana parece nunca crescer, amadurecer e cristalizar suas visões.
Talvez seja por isto que um revolucionário americano pode ao mesmo tempo ser um político. Esta também é a razão por que líderes do Industrial Workers of the World continuam no Partido Socialista, o qual é antagonista aos princípios assim como às atividades do IWW. Também por que um rígido marxista pode propor que os anarquistas trabalhem junto com a facção que começou sua carreira por meio de uma perseguição extremamente amarga e maliciosa a um dos pioneiros do anarquismo, Mikhail Bakunin. Em suma, à mente indefinida e incerta do radical americano, as ideias e métodos mais contraditórios são possíveis. O resultado é um triste caos no movimento radical, uma espécie de estouvamento intelectual, que não tem gosto nem caráter. No presente, o sindicalismo é o passatempo de vários americanos, supostos intelectuais. Não que eles saibam algo a respeito dele, além de que algumas grandes autoridades – Sorel, Bergson e outros – o defendem; porque o americano precisa do selo da autoridade, ou ele não aceita uma ideia, não importa o quão verdadeira e valiosa ela pode ser.
Nossas revistas burguesas estão cheias de dissertações sobre o sindicalismo. Uma de nossas fac
uldades mais conservadoras até mesmo chegou ao nível de publicar o trabalho de um de seus estudantes sobre o assunto, o qual tem a aprovação de um professor. E tudo isto não porque o sindicalismo é uma força e está sendo praticado com sucesso pelos trabalhadores europeus, mas porque – como eu disse antes – ele tem sanção autoritativa oficial.
Como se o sindicalismo tivesse sido descoberto pela filosofia de Bergson ou pelas descobertas teóricas de Sorel e Berth, e não tivesse existido e vivido entre os trabalhadores muito tempo antes destes homens escreverem sobre ele. O traço que distingue o sindicalismo da maioria das filosofias é que ele representa a filosofia revolucionária do trabalho concebida e nascida na luta real e na experiência dos próprios trabalhadores – não em universidades, faculdades, bibliotecas ou no cérebro de alguns cientistas. A filosofia revolucionária do trabalho, este é o verdadeiro e vital significado do sindicalismo.
Já em 1848, uma grande parte dos trabalhadores percebeu a futilidade total da atividade política como uma forma de ajudá-los em sua luta econômica. Já naquela época a demanda foi direcionada a medidas econômicas diretas, assim como contra o inútil desperdício de energia em vias políticas. Este não foi o caso apenas na França, mas mesmo antes disso, na Inglaterra, onde Robert Owen, o verdadeiro socialista revolucionário, propagou ideias similares.
Depois de anos de agitação e experimentação, a ideia foi incorporada pela primeira convenção da Internacional em 1867, na resolução de que a emancipação econômica dos trabalhadores deve ser o principal objetivo de todos os revolucionários, ao qual todo o resto está subordinado.
De fato, foi este posicionamento radical determinado que eventua lm ente ocasionou o racha no movimento revolucionário daqueles dias, e sua divisão em duas facções: uma que, sob Marx e Engels, buscava a conquista política; e outra que, sob Bakunin e os trabalhadores latinos, avançando ao longo de linhas industriais e sindicalistas. O desenvolvimento posterior destas duas alas é familiar a todo homem e mulher pensante: uma gradualmente se centralizou em uma grande máquina, com o único propósito de conquistar o poder político dentro do Estado capitalista existente; e a outra está se tornando um fator revolucionário cada vez mais vital, temida pelo inimigo como a maior ameaça ao seu domínio.
Foi no ano de 1900, como delegada do Congresso Anarquista em Paris, que eu tive meu primeiro contato com o sindicalismo em operação. A imprensa anarquista esteve discutindo o assunto por anos antes disso; logo, nós anarquistas sabíamos algo sobre o sindicalismo. Mas aqueles de nós que vivíamos nos Estados Unidos tínhamos que nos contentar com o seu lado teórico. Em 1900, entretanto, eu vi seu efeito sobre o trabalho na França: a força, o entusiasmo e a esperança com os quais o sindicalismo inspirou os operários. Também foi minha grande sorte aprender do homem que mais do que qualquer outro havia direcionado o sindicalismo para canais funcionais definidos, Fernand Pelloutier. Infelizmente, eu não pude conhecer este homem notavelmente jovem, pois naquela época ele já estava muito doente com câncer. Mas onde quer que eu fosse, com quem quer que eu falasse, o amor e a devoção por Pelloutier era maravilhosa, com todo mundo concordando que foi ele quem reuniu as forças descontentes no movimento operário francês e as imbuiu com uma nova vida e um novo propósito, o do sindicalismo.
No meu retorno aos Estados Unidos, eu imediatamente comecei a propagar ideias sindicalistas, especialmente a Ação Direta e a Greve Geral. Mas era como falar para as Montanhas Rochosas – nenhuma compreensão, mesmo entre os elementos mais radicais, e completa indiferença nas fileiras operárias.
Em 1907, eu fui como delegada ao Congresso Anarquista de A m sterdã e, enquanto estive em Paris, encontrei os sindicalistas mais ativos na Confederation Generale du Travail: Delesalle, Monate e muitos outros. Mais do que isso, eu tive a oportunidade de ver o sindicalismo em operação diária, em suas formas mais construtivas e inspiradoras.
Eu aludo a isto para indicar que meu conhecimento do sindicalismo não vem de Sorel, Bergson ou Berth, mas do contato e da observação reais do tremendo trabalho conduzido pelos trabalhadores de Paris dentro das fileiras da confederação. Seria necessário um livro para explicar em detalhes o que o sindicalismo está fazendo pelo movimento operário francês. Na imprensa americana você só lê de seus métodos resistivos, de greves e sabotagem, dos conflitos do trabalho com o capital. Estes são sem dúvida assuntos muito importantes, e ainda o efeito construtivo e educativo sobre a vida e o pensamento das massas.
A diferença fundamental entre o sindicalismo e os velhos métodos operários é a seguinte: enquanto as antigas uniões operárias, sem opção, se movem dentro do sistema salarial e do capitalismo, reconhecendo o último como inevitável, o sindicalismo os repudia e condena os a
cordos industriais atuais como injustos e criminosos, e não transmite nenhuma esperança para o operário quanto aos resultados duradouros deste sistema.
E claro que o sindicalismo, como as antigas uniões operárias, luta por ganhos imediatos, mas ele não é estúpido o suficiente para fingir que o trabalho pode esperar condições humanas a partir de arranjos econômicos desumanos na sociedade. Logo, ele meramente retira do inimigo o que ele pode forçá-lo a entregar; no todo, entretanto, o sindicalismo objetiva e concentra suas energias na derrubada completa do sistema salarial. De fato, o sindicalismo vai além: ele objetiva libertar o trabalho de cada instituição que não tenha por meta o livre desenvolvimento da produção para o benefício de toda a humanidade. Em suma, o propósito definitivo do sindicalismo é reconstruir a sociedade de seu presente estado centralizado, autoritário e brutal para um baseado no agrupamento livre e federativo dos trabalhadores nas linhas da liberdade econômica e social. Com este objetivo em vista, o sindicalismo trabalha em duas direções: primeiro, minando as instituições existentes; segundo, desenvolvendo e educando os trabalhadores e cultivando seu espírito de solidariedade para prepará-los para uma vida cheia e completa quando o capitalismo tiver sido abolido.
O sindicalismo é, em essência, a expressão econômica do anarquismo. Esta circunstância explica a presença de tantos anarquistas no movimento sindicalista. Como o anarquismo, o sindicalismo prepara os trabalhadores ao longo de linhas econômicas diretas, bem como fatores conscientes nas grandes lutas de hoje, bem como fatores conscientes na tarefa de reconstruir a sociedade em linhas industriais autônomas, bem como contra o espírito paralisante da centralização, inerente em todos os partidos políticos.
Percebendo que os interesses diametralmente opostos do capital e do trabalho não podem nunca ser reconciliados, o sindicalismo deve repudiar os métodos antigos, enferrujados e desgastados das uniões operárias e declarar uma guerra aberta contra o regime capitalista, assim como contra toda instituição que hoje apoia e protege o capitalismo.
Como uma sequência lógica, o sindicalismo, em sua guerra diária contra o capital, rejeita o sistema contratual, porque ele não considera o trabalho e o capital como iguais, consequentemente não pode consentir com um acordo que um tem o poder de quebrar, enquanto o outro deve se submeter sem compensação.
Por razões similares o sindicalismo rejeita as negociações em disputas trabalhistas, porque tal procedimento só serve para dar ao inimigo tempo para preparar o seu fim da luta, logo derrotando o próprio objetivo que os trabalhadores se propuseram a atingir. Além disso, o sindicalismo defende a espontaneidade, tanto como um mantenedor da força combativa operária como também porque ela pega o inimigo desprevenido, consequentemente o compele a um ajuste acelerado ou o causa grande perda.
O sindicalismo desaprova uma grande reserva de fundos sindicais, porque o dinheiro é um elemento tão corruptor nas fileiras do trabalho quanto o é naquelas do capitalismo. Nós nos Estados Unidos sabemos que isso é muito verdadeiro. Se o movimento operário neste país não fosse apoiado por fundos tão altos, não seria tão conservador quanto é, nem seus líderes seriam tão prontamente corrompidos. Todavia, a principal razão para a oposição do sindicalismo a grandes reservas consiste no fato de que elas criam distinções de classe e inveja dentro das fileiras operárias, tão prejudiciais ao espírito de solidariedade. O trabalhador cuja organização tem uma grande bolsa se considera superior a seu irmão mais pobre, assim como ele acredita ser melhor do que o homem que ganha cinquenta centavos a menos por dia.
O valor ético principal do sindicalismo consiste na ênfase que ele coloca na necessidade do trabalho se livrar do elemento de discórdia, parasitismo e corrupção em suas fileiras. Ele procura cultivar a devoção, a solidariedade e o entusiasmo, que são muito mais essenciais e vitais na luta econômica do que o dinheiro.
Como eu já afirmei, o sindicalismo cresceu da decepção dos trabalhadores com os métodos políticos e parlamentares. No curso de seu desenvolvimento, o sindicalismo aprendeu a ver no Estado – com o seu porta-voz, o sistema representativo – um dos maiores apoiadores do capitalismo; assim como ele aprendeu que o exército e a igreja são os pilares chefes do Estado. E por isso que o sindicalismo deu as costas ao parlamentarismo e às máquinas políticas e encarou a arena econômica na qual o gladiador do Trabalho pode sozinho enfrentar seu adversário com sucesso.
A experiência histórica apoia o sindicalismo em sua oposição intransigente ao parlamentarismo. Muitos entraram na vida política e, não querendo ser corrompidos pela atmosfera, desistiram do cargo para se dedicarem à luta econômica – Proudhon, o revolucionário holandês Nieuwenhuis, Johann Most e outros, enquanto aqueles que se mantiveram no atoleiro
parlamentar terminaram traindo sua confiança, sem ter ganhado nada para o trabalho. Mas é desnecessário discutir aqui a história política. E suficiente dizer que os sindicalistas são antiparlamentaristas como resultado de amarga experiência.
Igualmente, suas experiências também determinaram sua atitude antimilitar. De tempos em tempos o exército foi utilizado para atirar em grevistas e para indicar a ideia repugnante do patriotismo com o propósito de dividir os trabalhadores contra si e ajudar os mestres a colher os espólios. Os avanços que a agitação sindicalista tomou sobre a superstição do patriotismo são evidentes devido ao temor da classe dominante pela lealdade do exército e à rígida perseguição aos antimilitaristas. Naturalmente, pois a classe dominante percebe muito melhor que os trabalhadores que quando os soldados se recusarem a obedecer seus superiores o sistema capitalista completo estará condenado.
De fato, porque deveriam os trabalhadores sacrificar seus filhos para que eles sejam usados para atirar em seus próprios pais e mães? Por isso, o sindicalismo não meramente possui lógica em sua agitação antimilitarista; ela é principalmente prática e de longo alcance, visto que rouba a mais forte arma do inimigo contra o trabalho.
Agora, aos métodos empregados pelo sindicalismo – a Ação Direta, a Sabotagem e a Greve Geral.
A Ação Direta é o esforço individual ou coletivo consciente para protestar contra, ou remediar, condições sociais através da asserção sistemática do poder econômico dos trabalhadores.
A sabotagem foi condenada como criminosa, mesmo pelos chamados socialistas revolucionários. É claro, se você acredita que a propriedade, que exclui o produtor de seus uso, é justificável, então a sabotagem é de fato um crime. Mas a menos que um socialista continue a estar debaixo de nossa moralidade burguesa – uma moralidade que permite que poucos monopolizem a terra à custa de vários – ele não pode consistentemente afirmar que a propriedade capitalista é inviolável. A sabotagem mina esta forma de posse privada. Ela pode portanto ser considerada criminosa? Pelo contrário, ela é ética no melhor sentido, já que ajuda a sociedade a se livrar de seu pior adversário, o fator mais prejudicial da vida social.
A sabotagem está principalmente preocupada com a obstrução, por qualquer método possível, do processo regular de produção, demonstrando desse modo a determinação dos trabalhadores em dar de acordo com o que recebem, e nada mais. Por exemplo, na época da greve ferroviária de 1910, os bens perecíveis foram enviados em trens lentos, ou em direção oposta à direção pretendida. Quem além do filisteu mais ordinário chamaria isto de crime? Se os próprios ferroviários passam fome e o público “inocente” não tem um sentimento de solidariedade suficiente para insistir que estes homens deveriam ter o suficiente para viver, o público perdeu a simpatia dos grevistas e deve enfrentar as consequências.
Outra forma de sabotagem consistia, durante esta greve, em colocar caixas pesadas em bens marcados “manuseie com cuidado”, vidro lapidado, cerâmica e vinhos preciosos. Do ponto de vista da lei isto pode ter sido um crime, mas do ponto de vista de uma humanidade comum foi uma coisa bastante sensível. O mesmo é verdadeiro para desmanchar um tear em uma fábrica de tecelagem, ou cumprir a lei ao pé da letra, como os ferroviários italianos fizeram, consequentemente causando confusão no serviço ferroviário. Em outras palavras, a sabotagem é meramente uma arma de defesa na guerra industrial, a qual é a mais efetiva porque atinge o capitalismo em seu ponto mais fundamental, o bolso.
Por Greve Geral, o sindicalismo quer dizer a suspensão do trabalho, o cessamento das atividades. Nem é preciso que este tipo de greve seja adiado até que todos os trabalhadores de um local ou país em particular estejam prontos para ela. Como foi apontado por Pelloutier, Pouget, assim como outros, e particularmente pelos eventos recentes na Inglaterra, a Greve Geral deve ser começada por uma indústria e exercer uma força tremenda. E como se um homem de repente gritasse “Pare o ladrão!”. Imediatamente, outras pessoas irão ecoar o grito, até que o ar ressoe com ele. A Greve Geral, iniciada por uma determinada organização, por uma indústria ou por uma pequena e consciente minoria entre os trabalhadores, é o grito industrial de “Pare o ladrão!”, que é logo ecoado por muitas outras indústrias, se espalhando como um incêndio em um tempo muito curto.
Uma das objeções dos políticos à Greve Geral é que os trabalhadores também sofreriam pelas necessidades da vida. Em primeiro lugar, eles são mais que mestres em passar fome; em segundo lugar, é certo que uma Greve Geral tem mais segurança de precipitar um acordo do que uma greve comum. Veja as greves dos transportes e das minas na Inglaterra: quão rapidamente os senhores do Estado e do capital foram forçados a fazer as pazes. Além disso, o sindicalismo reconhece o direito dos produtores às coisas que cr
iaram; nominalmente, o direito dos trabalhadores a se ajudarem se a greve não entrar rapidamente em acordo.
Quando Sorel afirma que a Greve Geral é uma inspiração necessária para as pessoas darem significado às suas vidas, ele está expressando um pensamento que os anarquistas se cansaram de enfatizar. No entanto, eu não concordo com Sorel que a Greve Geral é um “mito social”, que ela nunca pode ser realizada. Eu acredito que a Greve Geral se tornará um fato no momento que o trabalho compreender seu valor total – seu valor destrutivo assim como construtivo, como de fato muitos trabalhadores ao redor do mundo estão começando a perceber.
Estas ideias e métodos do sindicalismo são considerados inteiramente negativos por alguns, apesar de eles estarem longe disso em seu efeito sobre a sociedade hoje. Mas o sindicalismo também tem um aspecto diretamente positivo. De fato, muito mais tempo e esforço está sendo devotado a essa fase do que às outras. Várias formas de atividade sindical estão projetadas para preparar os trabalhadores, mesmo com as condições sociais e industriais atuais, para a vida de uma sociedade nova e melhor. Para este fim, as massas são treinadas no espírito do apoio mútuo e da fraternidade, sua iniciativa e autoconfiança se desenvolvem, e uma moral é mantida cuja própria alma é a solidariedade de propósito e a comunhão de interesses do proletariado internacional.
Central entre estas atividades são as sociedades de apoio mútuo estabelecidas por sindicalistas franceses. Seu objetivo é, antes de tudo, assegurar o trabalho para membros desempregados, e para promover este espírito de assistência mútua que repousa sobre a consciência da identidade de interesses do trabalho ao redor do mundo.
Em seu “O Movimento Operário na França”, o Sr. L. Levine afirma que durante o ano de 1902 mais de 74 000 pessoas, de um total de 99 000 requerentes, conseguiram trabalho por estas sociedades, sem serem obrigadas a se submeter à extorsão dos tubarões das agências de emprego. Estes últimos são uma fonte da mais baixa degradação, assim como da exploração mais descarada, do trabalho. Isso é especialmente verdadeiro para os Estados Unidos, onde as agências de emprego também são em muitos casos agências de detetives mascaradas, conduzindo pessoas em necessidade de emprego para regiões de greve, sob falsas promessas de emprego estável e bem remunerado. A confederação francesa há muito tempo percebeu o papel depravado das agências de emprego como sanguessugas do trabalhador desempregado e berçários de fura-greves. Pela ameaça de uma Greve Geral, os sindicalistas franceses forçaram o governo a abolir os tubarões das agências de emprego, e as próprias sociedades de apoio mútuo quase que totalmente as substituíram, para a grande vantagem econômica e moral do trabalho.
Além das sociedades de apoio mútuo, os sindicalistas franceses estabeleceram outras atividades que tendiam a fundir o trabalho em laços mais fortes de solidariedade e apoio mútuo. Entre estas estão os esforços para ajudar trabalhadores que viajavam de local para local. O valor prático assim como ético desta assistência é inestimável. Ela serve para instilar o espírito de companheirismo e dá uma consciência de segurança no espírito de unidade com a grande família do trabalho. Este é um dos efeitos vitais do espírito sindicalista na França e em outros países latinos. Que tremenda necessidade há de exatamente estes esforços neste país! Alguém pode duvidar da significância da consciência dos trabalhadores vindos de Chicago, por exemplo, para Nova Iorque, certos de encontrar entre seus companheiros boas-vindas com alojamento e alimentação até que eles assegurassem emprego? Esta forma de atividade é completamente estranha aos corpos operários deste país, e como resultado o trabalhador que viaja em busca de trabalho é vítima das leis de vadiagem, e por isso lamentavelmente é recrutado, através do estresse da necessidade, ao exército dos fura- greves. Eu testemunhei repetitivamente, enquanto estive na sede da confederação, os casos de trabalhadores que vinham com seus cartões do sindicato de várias partes da França, e mesmo de outros países da Europa, e eram providos com refeições e alojamento, e encorajados por cada prova de espírito fraterno, e levados a se sentir em casa por seus companheiros trabalhadores da confederação. E em grande parte devido a estas atividades dos sindicalistas que o governo francês é obrigado a empregar o exército para a quebra de uma greve, porque poucos trabalhadores estão dispostos a se prestarem a este serviço, graças aos esforços e às táticas do sindicalismo. Não menos importante que as atividades de apoio mútuo dos sindicalistas é a cooperação estabelecida por eles entre a cidade e o campo, o trabalhador da fábrica e o camponês ou fazendeiro, o último suprindo os trabalhadores com mantimentos durante as greves ou cuidando das crianças dos grevistas. Esta forma de solidariedade prática foi tentada pela primeira vez neste país duran
te a greve de Lawrence, com resultados inspiradores.
E todas estas atividades sindicalistas estão permeadas com o espírito do trabalho educativo, conduzido sistematicamente por classes noturnas em todos os assuntos vitais tratadas de um ponto de vista libertário e imparcial – não o “conhecimento” adulterado com o qual as mentes estão estufadas em nossas escolas públicas. O escopo da educação é realmente fenomenal, incluindo higiene sexual, o cuidado das mulheres durante a gravidez e o confinamento, o cuidado do lar e das crianças, saneamento e higiene geral; de fato, cada ramo do conhecimento humano – ciência, história, arte – recebe atenção minuciosa, junto com a aplicação prática nas bibliotecas dos trabalhadores estabelecidas, dispensários, concertos e festivais, dos quais os maiores artistas e literatos de Paris consideram uma honra participar.
Um dos esforços mais vitais do sindicalismo é preparar os trabalhadores agora para seu papel em uma sociedade livre: logo, as organizações sindicalistas provém seus membros com livros sobre cada ofício e indústria, de um caráter que é calculado para fazer o trabalhador um adepto de sua linha escolhida, um mestre de sua profissão, para o propósito de familiarizá-lo com todos os ramos de sua indústria, para que quando o trabalho finalmente tomar a produção as pessoas estiverem totalmente preparadas para administrar com sucesso seus próprios assuntos.
Uma demonstração da efetividade da campanha educativa do sindicalismo é dada pelos ferroviários italianos, cujo domínio de todos os detalhes do transporte é tão grande que eles podiam se oferecer ao governo italiano para tomar as ferrovias e garantir sua operação com maior economia e menos acidentes do que é feito no presente pelo governo.
Sua habilidade de conduzir a produção foi provado pelos sindicalistas de forma impressionante, em conexão com a greve dos assopradores de vidro na Itália. Lá os grevistas, ao invés de permanecerem ociosos durante o progresso da greve, decidiram eles mesmos conduzirem a produção de vidro. O maravilhoso espírito de solidariedade resultante da propaganda sindicalista os permitiu construir uma fábrica de vidro dentro de um tempo incrivelmente curto. Uma velha construção alugada para o propósito que teria requerido normalmente meses para ser colocada em condições adequadas foi transformada em uma fábrica de vidro dentro de poucas semanas pelos esforços solidários dos grevistas ajudados por seus companheiros que trabalhavam com eles depois do expediente. Então os grevistas começaram a operar a fábrica de sopramento de vidro, e seu plano cooperativo de trabalho e distribuição durante a greve se mostrou tão satisfatório de todas as maneiras que a fábrica experimental foi transformada em permanente e uma parte da indústria de sopramento de vidro na Itália está agora nas mãos da organização cooperativa dos trabalhadores.
Este método de educação aplicada não somente treina o trabalhador em sua luta diária, mas também serve para equipá-lo para a batalha real e para o futuro quando ele deverá assumir seu lugar na sociedade como um ser inteligente e consciente e um produtor útil, uma vez que o capitalismo for abolido. Quase todos os principais sindicalistas concordam com os anarquistas que uma sociedade livre pode existir somente através da associação voluntária e que seu sucesso derradeiro irá depender do desenvolvimento intelectual e moral dos trabalhadores que irão suplantar o sistema salarial com um novo arranjo social, baseado na solidariedade e no bem-estar econômico para todos. Isto é o sindicalismo, na teoria e na prática.
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