Núcleos pró-COB – história de uma retomada de luta

20 ANOS DOS NÚCLEOS PRÓ-COB/AIT (100 ANOS DE FUNDAÇÃO DA COB/AIT [2005]

Date Tue, 29 Nov 2005

Jaime Cubero e o Movimento Anarquista no Brasil

“A COB(Confederação Operária Brasileira) surgiu. Durante a clandestinidade continuávamos a reunir. Mesmo durante o período de ditadura chegávamos a encontrarmo-nos cerca de 90 pessoas. Tudo na clandestinidade, mas conseguíamos resistir. Só não editávamos nada.

Começámos a interessar-nos pelo sindicalismo e inclusive criámos, no Centro, uma Comissão Sindical, criando mesmo comissões específicas:  comissão sindical; comissão do teatro, agora temos a comissão de cinema.

A comissão sindical começou então a encetar contactos com os sindicatos.

A CNT(Confederação Nacional do Trabalho) tinha sede em Espanha. Quando viram que nos interessávamos pelo sindicalismo vieram cá e preparámos um encontro nacional. Quiseram reconstruir a COB. Quanto a mim, já não será mais o que foi. O sindicato hoje tem que se preocupar mais com a apropriação do conhecimento do que com as reivindicações salariais. Uma representação da Baía propõe também a reconstrução da COB. Como criar uma Federação sem sindicatos? Primeiro há que criar sindicatos de ofícios vários, por ramos de actividade só depois virá a Federação.

Veio uma proposta de novo da Baía[1] no sentido de se criar um núcleo. Criaram-se Núcleos pró-COB com representações em muitos estados do Brasil. Foi mesmo lançado um jornal «A Voz do Trabalhador» que conquistou a confiança de todos. Leonardo Moreli, hoje aliado político da extrema direita no Brasil foi na altura enviado como representante (delegado brasileiro) ao congresso AIT(Associação Internacional dos Trabalhadores). Ali enrolou toda a gente (os espanhóis). Mas ele, Leonardo, só estava interessado no dinheiro. Foi uma pessoa que prejudicou demais o movimento anarquista. Eu fui nomeado secretário dos Grupos pró-COB.”

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A COB (Confederação Operária Brasileira) surgiu. Durante a clandestinidade continuávamos a reunir. Mesmo durante o período de ditadura chegávamos a encontrarmo-nos cerca de 90 pessoas. Tudo na clandestinidade, mas conseguíamos resistir. Só não editávamos nada. Começámos a interessar-nos pelo sindicalismo e inclusive criámos, no Centro, uma Comissão Sindical, criando mesmo comissões específicas: comissão sindical; comissão do teatro, agora temos a comissão de cinema. A comissão sindical começou então a encetar contactos com os sindicatos. A CNT(Confederação Nacional do Trabalho) tinha sede em Espanha. Quando viram que nos interessávamos pelo sindicalismo vieram cá e preparámos um encontro nacional. Quiseram reconstruir a COB. Quanto a mim, já não será mais o que foi. O sindicato hoje tem que se preocupar mais com a apropriação do conhecimento do que com as reivindicações salariais. Uma representação da Baía propõe também a reconstrução da COB. Como criar uma Federação sem sindicatos? Primeiro há que criar sindicatos de ofícios vários, por ramos de actividade só depois virá a Federação.

Veio uma proposta de novo da Baía no sentido de se criar um núcleo. Criaram-se Núcleos pró-COB com representações em muitos estados do Brasil. Foi mesmo lançado um jornal «A Voz do Trabalhador» que conquistou a confiança de todos. Leonardo Moreli, hoje aliado político da extrema direita no Brasil foi na altura enviado como representante (delegado brasileiro) ao congresso AIT(Associação Internacional dos Trabalhadores). Ali enrolou toda a gente (os espanhóis). Mas ele, Leonardo, só estava interessado no dinheiro. Foi uma pessoa que prejudicou demais o movimento anarquista. Eu fui nomeado secretário dos Grupos pró-COB. Tínhamos a intenção de levar para a frente uma Federação. Por outro lado, na reabertura do Centro (1985) estiveram presentes muitos canais de TV, que deram uma cobertura incrível, fazendo uma série de entrevistas.

O que fizemos de importante foi um curso de anarquismo onde se apresentaram mais de 50o pessoas (apesar dos custos de inscrição). A partir daí passámos a fazer cursos de anarquismo universitários.

Outro curso que lançámos foi «As ideias libertárias na Revolução Francesa» que foi muito divulgado no meio universitário. Temos uma relação importante com a Universidade.

Em 1974, a família de Edgar vende o Arquivo, o Acervo Colectivo para o Unicamp, porque pensavam que tinham ali uma fortuna. Mas, o Edgar antes de morrer deixou anotado uma espécie de testamento dedicado aos seus companheiros no sentido de ser criado um Arquivo da Questão Social. Mas estavam muito interessados neste Arquivo (comunistas com medo de serem comprometidos). Mas aí a família continuava a querer vender. Quando abriram o testamento, a família soube que não podia vender para alguém dos EUA que lhe oferecia muito dinheiro por ele. Resolveram criar um memorial Edgar Leuenroth em plena ditadura, o que nos impossibilitava de fazer algo.

O Arquivo do Edgar na Universidade de Campinas não irá só servir para os intelectuais?

Começou de facto a surgir um interesse universitário pelo Arquivo. Descobriram um filão para fazer pós-graduações em História e outras Ciências Sociais. Muitas editoras passaram a criar colecções sobre o Anarquismo. A Contexto criou uma colecção enorme. A uma dada altura, o Jorge perguntou-me se podia fazer um levantamento exaustivo sobre o Anarquismo. Foram feitas pesquisas de investigação sobre o Anarquismo e mesmo teses de doutoramento. O Arquivo do Edgar foi importantíssimo nesse aspecto. Eu próprio fui convidado para o visitar.

Há uma grande difusão do anarquismo em termos académicos, através de doutoramentos, palestras…

Desculpe interromper, mas a difusão do anarquismo foi mesmo muito grande. Fomos convidados para fazer cursos nas Universidades, palestras, etc… Foram abertos espaços grandes neste campo na Universidade de São Paulo. O trabalho na universidade para nós foi muito importante. Havia quem não o considerasse como tal. Temos tido muita adesão a este campo. Os auditórios têm estado sempre lotados.

A actividade universitária está a desenvolver-se. Mas noutros espaços, como os anarco-punks, o que tem acontecido?

Os punks aqui têm criado muita confusão, de forma algo violentos. Chegaram a promover acções muito violentas e a confrontar-se, hostilizando mesmo os militares em parada. Só que, quando o fizeram, em dada altura chegou a polícia e prendeu mais de 300. Sobre este assunto eu dei uma entrevista para a folha de São Paulo. Hoje, o néo-nazismo, cabeças rapadas geram muita confusão, muita violência entre eles e os anarco-punks. Houve mesmo mortes. Parece-me haver falta de informação. Mas, com mais informação, alguns deles estão desenvolvendo acções mais positivas, em cooperativas operárias. Com o desemprego imenso que crassa o Brasil, todos os que sabem de uma profissão é positivo. Contribuem para melhorar a imagem deles. É parecido com o Movimento dos Sem Terra. Estes estão construindo casas, semeando, conseguem autosustentar-se. Temos acções a vários níveis com os anarco-punks que são cada vez mais positivas.

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E aqui terminamos a última entrevista dada pelo nosso companheiro Jaime Cubero, ainda no ano passado, à revista UTOPIA. Um obrigado póstumo, mas não morto de todos nós que temos o privilégio único de ouvir a sua voz uma vez mais. Até sempre companheiro.

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[1] Na realidade a proposta foi do RS, através dos delegados do coletivo local com base nas resoluções das Jornadas Libertarias de Florianópolis de 1986.

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https://www.veiosdakombi.com.br/copia-ccs-poa

Um pouco de história

​A luta dos trabalhadores brasileiros, a partir do final do século XIX até final da década de 20 do século XX, teve marcante e preponderante influência do anarquismo, em especial do anarco-sindicalismo.

Após anos de lutas em 1906 foi fundada a COB – Confederação Operária Brasileira, que tinha os objetivos de defender a classe trabalhadora da exploração do capital e patronal, e lutar pela revolução social. Os sindicatos construídos a partir daí empenhavam-se não só na luta econômica, mas, também em desenvolver a cultura e a educação entre os trabalhadores. São inúmeros os exemplos de grupos de teatro, jornais, alfabetização, escolas, livrarias, saraus de música e poesia, palestras, além de festas e grandes piqueniques, organizados pela COB e seus sindicatos.

Tinha como órgão de divulgação o jornal A Voz do Trabalhador, fundado em 1908 e reeditado pelos Núcleos Pró-COB. Algumas dessas edições podem ser consultadas neste site.

​Não há espaço aqui para discutir as razões do declinio da COB e do anarquismo no Brasil, mas, é possível listar alguns fatores que contribuiram para isso.

Um dos mais significativos foi a grande perseguição sofrida pelos trabalhadores que participavam do movimento. Prisão, morte, expulsão do pais e até encarceramento em campo de concentração de muitos companheiros (Clevelândia no norte do pais). Contribuiram também a Revolução Russa de 1917 e depois o golpe bolchevique, que fortaleceu a proposta comunista em nível mundial; a chamada revolução de 30, capitaneada por Getúlio Vargas, que acabou com a liberdade sindical e mais tarde implantou uma ditadura de inspiração fascista; o fascismo e nazismo que grassava pela Europa nesse período.

O anarquismo resistiu através da atuação de pequenos grupos e até indivíduos nos sindicatos sobreviventes, centros e organizações culturais, no movimento estudantil, associações de resistências, etc. 

Em meados dos anos 70, no ressurgimento das grandes mobilizações operárias, os anarquistas estavam presentes agindo e discutindo propostas de organização e luta do movimento.

Núcleos pró-COB

​A partir de então amadurece o debate sobre o anarco-sindicalismo. Nos encontros e jornadas libertárias, em várias regiões do pais, são discutidas propostas para atuação sindical. Em São Paulo surge o Núcleo de apoio a AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores). Já no sul do pais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, os debates apontam para a necessidade de reorganizar a COB.

Em 1986 é realizado em São Paulo, o Encontro de reconstrução da COB, adotando como orientação organizativa a criação dos Núcleos pró-COB associados a AIT.

Mostrar a luta dessa reconstrução, através dos jornais, panfletos, cartazes e outros materiais, é o que nos propomos nessa página.

A Voz do Trabalhador, n°2, 1988
A Voz do Trabalhador, Ano 2, n°3, Julho 1989
A Voz do Trabalhador, ano 6, n°6, 1993
A Voz do Trabalhador, ano 7, maio de 1994

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A COB-AIT hojé :

e-mail atual: cobforgs@gmail.com

https://www.facebook.com/confederacao.brasileira


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